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Diante dessas evidências iniciais sugerindo um papel primordial do
nucleossoma na fisiopatogenia do LES, elaboramos um estudo clínico
para avaliar o valor don anticorpos anti-nucleossoma no diagnóstico
do LES, sua correlação com os índices de atividade
da doença, a sua associação com manifestações
clínico-laboratoriais, principalmente a nefrite em atividade, associação
com o tempo de doença, o tempo de tratamento e o tipo de terapêutica
empregada. Realizamos um estudo de corte transversal , reunindo 71 portadores
de LES, 64 mulheres e 07 homens, com média de idade =30,01±11,48
anos e tempo médio de doença =37,7±47,87 meses, internados
ou atendidos em ambulatórios do Hospital Universitário Walter
Cantídio a Hospital Geral Dr. César Cals, durante o período
de março de 1995 a novembro de 1997 . Todos os pacientes preenchiam
pelo menos 4 critérios , do Colégio Americano de Reumatologia
(ACR) para diagnóstico do lúpus e foram classificados segundo
a atividade da doença através de dois índices SLEDAI
e LACC. 63,4% deles encontravam-se com doença ativa e 77,4% apresentavam
envolvimento renal como definido pelos critérios do ACR. As amostras
de sangue foram obtidas para pesquisa dos anticorpos anti-nucleossoma,
anticorpos anti-dsDNA e anticorpos anti-histonas, através do método
imunoenzimático (ELISA). Valores ndrmais para esses testes foram
definidos num grupo de doadores voluntários de sangue, sendo também
analisado soro de portadores de artrite reumatóide e de glomerulopatia
primária para cálculo da sensibilidade e da especificidade
dos anticorpos. A comparação entre os grupos mostrou que
os títulos dos anticorpos anti-nucleossoma e anti-dsDNA estiveram
significativamente mais elevados nos portadores de LES que nos demais indivíduos
(p<0,0001). A sensibilidade dos anticorpos anti-nucleossoma foi de 71,8%,
significativamente superior à de 43,6% observada para os anticorpos
anti-dsDNA (p<0,0001). Entretanto, a sua especificidade foi de 84,2%,
inferior à registrada para o antidsDNA, 94,7% (p<0,009). Os títulos
dos anticorpos anti-nucleossoma apresentaram correlação com
os índices de atividade da doença SLEDAI a LACC (r=0,486,
p<0,0001 ; r=0,536 p<0,0001, respectivamente) assim como os títulos
dos anticorpos anti-dsDNA (r=0,449, p<0,0001 ; r=0,488, p<0,0001,
respectivamente). Essa correlação foi confirmada em 28 pacientes
submetidos a uma segunda pesquisa de anticorpos e nova avaliação
da atividade lúpica (anti-nucleossoma r=0,573, p=0,001 e anti-dsDNA:
r=0,518, p=0,004).
Entre os pacientes que apresentavam anticorpos anti-nucleossoma, 10% deles
mostravam reatividade isolada, sem a concomitância dos outros anticorpos,
confirmando os relatos de outros pesquisadores sobre a presença
de anticorpos anti-nucleossoma restritos. Os anticorpos anti-nucleossoma
estiveram presentes em 25% dos pacientes com doença inativa, enquanto
que apenas 3,2% destes indivíduos apresentavam o anticorpo anti-dsDNA.
A presença dos anticorpos anti-nucleossoma, ao contrário
dos anticorpos anti-dsDNA, exibiu associação com atividade
lúpica apenas no grupo com envolvimento renal (p=0,021), o que pode
representar a confirmação de relatos experimentais de um
papel nefritogênico para os anticorpos anti-nucleossoma. Nenhuma
associação foi demonstrada, através de análise
univariada, entre a presença de ambos os anticorpos e manifestações
clínicas e laboratoriais isoladas do lúpus. Pacientes com
menor tempo de doença ou de tratamento apresentaram positividade
de anticorpos anti-nucleossoma (p=0,041 e p=0,003, respectivamente) e anticorpos
anti-dsDNA (p= 0,001 e p=0,005, respectivamente) significativamente mais
elevada, enquanto que nenhuma diferença foi observada entre os indivíduos
tratados (n=58) a nao tratados (n=13). Os pacientes em use de corticosteróide
como terapêutica única e com tempo de doença ou tempo
de tratamento inferior a 6 meses, apresentavam positividade de anticorpos
anti-nucleossoma (p=0,034 e p=0,016, respectivamente) e anticorpos anti-dsDNA(
p=0,001 e p=0,003, respectivamente) significativamente superior em relação
àqueles doentes tratados há pelo menos 6 meses. Entre os
pacientes em use de terapêutica combinada de imunossupressor a corticosteróide
não foram observadas diferenças quanto à presença
dos anticorpos, independente do tempo de doença ou de tratamento.
A pesquisa de anticorpos anti-nucleossoma, além de contribuir para
uma melhor compreensão sobre a patogênia do LES, pode representar
também um importante recurso diagnóstico, notadamente por
apresentar maior sensibilidade em comparação aos anticorpos
anti-dsDNA, manter boa especificidade e exibir correlação
com a atividade clínica da doença, sobretudo nos pacientes
com nefrite lúpica, além da possibilidade de serem os únicos
anticorpos anti-cromatina presentes.