A anemia falciforme é uma doença endêmica no Estado
do Ceará. Além das características hematológicas
da doença, as crianças falcêmicas possuem um marcante
déficit pondo-estatural, um atraso puberal acentuado, e sinais de
desnutrição. A hipozincemia é característica
nesta doença, podendo ser responsável pela grande maioria
dos achados clínicos. Os baixos níveis de zinco na doença
falcêmica permanecem sem fisiopatologia totalmente explicada. Ojetivamos
neste trabalho: estudar a população falcêmica infantil
em seguimento em um centro de referência do Estado quanto aos aspectos
epidemiológicos da doença. Estas crianças foram cadastradas
no período de janeiro de 1979 a janeiro de 1997. Realizar
avaliação nutricional desta população com a
utilização de um grupo controle. Detectar fatores contribuintes
para baixa estatura, o déficit ponderal e o atraso puberal. Avaliar
o nível de zinco sérico. Metodologia: Análise retrospectiva
de todos os prontuários de crianças com diagnóstico
de doença falcêmica cadastradas no Serviço de Hematologia
do Hospital Infantil Albert Sabin, no período de janeiro de 1979
a 1997. Foi utilizado questionário para a averiguação
de dados de herança estatural, de índices hematimétricos,
da idade óssea pelo método de Greulich & Pyle. Realizada
avaliação clínica individual com a determinação
de sinais de desnutrição, antropometria a estadiamento puberal.
Realização de cálculos de índices de classificação
nutricional, comparando com a população local. Dosagem sérica
de zinco por espectofotometria. Resultados: Foi confirmada a endemicidade
da doença falcêmica com incidência média, nos
ú1timos 17 anos, de 6,42 casos/ano. O diagnóstico e ínicio
de terapia ocorreu em média aos 30,98 meses que é elevado
quando comparado com 3,0 meses descrito na literatura. Padrão agressivo
da doença mantendo índice de mortalidade calculado de 5,73%.
Os níveis hematimétricos com hemoglobina média de
6,93mg/dl (±1,21), a hematócrito de 23,11 % (± 4,43)
abaixo dos descritos na literatura para a anemia falciforme. As crianças
falcêmicas apresentaram, na maioria das vezes, peso ao nascer e índice
ponderal dentro das faixas da normalidade, confirmando estudos que relacionam
os primeiros sinais clínicos com a queda dos níveis de HbF.
A avaliação nutricional a partir da utilização
dos Ídices de Classificação de Waterlow, Gomez e Desvios-padrão
(Score Z) confirmaram o estado de desnutrição da população
falcêmica infantil. Parte das crianças falcêmicas mantiveram
velocidade de crescimento zero, durante o período em que foram observadas.
O estadiamento puberal realizado a partir dos critério de Tanner
demonstraram atraso de até sete anos em algumas crianças.
O atraso de idade óssea em relação à idade
cronológica foi em média 1,35 anos, sendo o atraso presente
em 82% da população falcêmica e 72% na controle. O
nível médio de zinco sérico (0,784u/dl) foi significamente
mais baixo que do grupo controle (1,05 ug/dl). Conclusão:A anemia
falciforme em nosso meio é endêmica e possui caráter
agressivo. O diagnóstico é tardio. A população
infantil atingida apresenta importantes quadros de desnutrição,
atraso puberal e de atraso de idade óssea. Os níveis de zincemia
estão significamente mais baixos na população falcêmica
quando comoparados com os da população em geral.