Resumo

          A Insuficiência renal aguda (IRA) relacionada com gravidez continua sendo prevalente nos países em desenvolvimento. Apesar do tratamento dialítico e dos avanços tecnológicos de suporte ao paciente em estado crítico de Saúde, a mortalidade da IRA ainda se mantém elevada. Vários fatores podem contribuir para a mortalidade destas pacientes. A análise destes fatores pode fornecer informações que influenciem nas medidas a serem tomadas para a redução dos óbitos nestas gestantes de alto risco. Realizamos um estudo retrospectivo em pacientes portadoras de IRA na gravidez que necessitaram de diálise no período de janeiro de 1991 a julho de 1999, com o objetivo de verificar os fatores associados com óbito neste grupo de pacientes. Os dados das pacientes foram submetidos à analise de fatores independentes associados com óbito com nível de significância de 95%. As variáveis que obtiveram significância a 20% entraram em modelo de regressão logística de efeito múltiplo. No período descrito, 44 pacientes com diagnóstico de IRA relacionada com gravidez, internadas na Maternidade Assis Chateaubriand (MEAC), foram submetidas a tratamento dialítico na Unidade de Diálise do Hospital Universitário Walter Cantídio. Eram vinte a três primíparas (52,5%) a vinte a uma multíparas com idade média de 26,1±6,45 anos, variando de treze a quarenta anos e idade gestacional de 32,7±8,2 semanas, variando de cinco a quarenta e duas semanas. A IRA ocorreu no pós-parto em 95,5% dos casos. Vinte a nove pacientes foram submetidas a partos cesarianos (65,9%), sete tiveram partos normais (15,9%), quatro necessitaram de fórceps de alívio (9,1%) e quatro apresentaram-se após abortos (9,1%). Vinte e sete pacientes realizaram acompanhamento pré-natal. Procediam da Capital do Estado dezessete pacientes (38,6%) e vinte e sete eram do interior (61,4%). A IRA foi determinada por: Pré-eclâmpsia - oito pacientes (18,2%), sindrome de HELLP (HELLP) -dezoito (40,9%), Esteatose hepática aguda da gravidez (EHAG) - seis (13,6%), púrpura trombocitopênica trombótica - uma (2,3%), pielonefrite aguda - três (11,4%), aborto séptico -três ( 6,8%).Vinte e três pacientes apresentaram complicações obstétricas (52,3%). DPP ocorreu em treze ocasiões (44,8%), feto morto retido em 9(31,1%), restos placentários em cinco (17,2%) a lacerações do canal do parto em duas (6,9%).

          206 eventos clínicos foram observados na ocasião do diagnóstico da IRA. Oligúria em 37 casos (84,1%), sobrecarga circulatória em sete (15,9%), hipotensão em quinze (34,1%), hipertensão em dezenove (43,2%), icterícia em vinte e cinco (59,1%), disfunção hepática em vinte e oito (63,6%), convulsões em quinze (34,1%), coma em sete, insuficiência respiratória em doze (15,9%), hemorragia em 30 (65,9) a sepsis 10 (22,7%). A creatinina sérica média pré-diálise foi de 4,6±1,9 mg/dl, o potáqssio de 4,9±1,9 mEq/L, o bicarbonato de 19,34±3,61 mEq/I, o pH médio de 7,35±0,14. O hematócrito variou de 8 a 42%, com média de 24,7±6,0%. A leucometria média foi de 23.595±29.659,35 /mm3e a contagem de plaquetas média de 63.002,27±51.191,84 /mm3. A variação da atividade de protrombina (AP) média foi de 62,68±24,98%.O TPTa médio de 36,03±15,64 minutos. O valor médio de TGO foi 272,91±409,53 UI e de TGP igual a 229,38±373,05 UI, da bilirrubina total foi de 8,81±7,55 mg/dl. A Pa02 média foi de 80,27±29,48. A hemodiálise convencional (HD),foi utilizada em vinte e seis pacientes (59,1%) a hemodiálise lenta (HD lenta), em dezoito (40,9%).O tempo de permanência em diálise variou de 1 a 31 dias com a média de 10,5 ± 7,25 dias. Após o ínicio do tratamento dialítico, vinte e seis apresentaram complicações (59,1%). A sepsis ocorreu em dezenove casos (20,45%).choque em seis (13,63%), hemorragia em oito (18,18%), disfunção hepática (4,5%), e coma surgiram em dois casos (4,5%) e insuficiência respiratória em um (2,3%). As drogas inotrópicas foram empregadas em (22,72%) a assistência ventilatória 29,5% das pacientes. Foram realizadas em média, de 6,2±3,9 unidades transfusões de concentrados de hemácias, por paciente. 33 pacientes estavam internadas em unidade de terapia intensiva (75,0%) e onze em enfermaria (25,0%). A mortalidade foi de 29,5%. Na análise de fatores independentes foram encontradas como significantes as seguintes variáveis: Idade das pacientes, (p=0,0381) RR=1,13, Não realização de pré-natal (p=0,015) RR= 3,57, convulsões (p=0,019) RR=3,09, coma (p<0,001) RR=6,17, insuficiência respiratória (p<0,001) RR= 6,00, sepsis (p=0,003) RR=3,97, hipotensão pós diálise (p=0,006) RR=4,00, HD lenta (p<0,001) RR= 17,33, permanência em diálise < 5 dias (p=0,012) RR=3,43. Uso de inotrópicos (p<0,001) RR=7,94, ventilação mecânica (p<0,001) RR= 28,62. UTI (p= 0,001) RR=0,61. Após a entrada das variáveis significativas no modelo logístico, o fator que mais contribuiu para o risco de óbito foi ao emprego de ventilação mecânica com odds ratio = 359, 97 (20, 79 - 6232, 36).