Resumo

          O gene supressor de tumor, p53 é a alteração genética isolada mais comum em todos os tipos de câncer e, portanto, tem sido frequentemente implicado na patogênese de muitos tumores humanos. O objetivo deste estudo foi a análise retrospectiva das características morfológicas e a avaliação da expressão da proteína p53 por imunohistoquímica em biópsia de medula óssea de pacientes portadores de síndrome mielodisplástica (SMD) previamente diagnosticados. Quarenta a três fragmentos de biópsia óssea, obtidos de trinta a três pacientes, foram retrospectivamente analisados a os achados relacionados entre si a com parâmetros clínico-laboratoriais. Na avaliação morfológica, o maior percentual de pacientes (78,8%) possuia medula óssea hipercelular, enquanto 9,1% apresentavam medula normocelular a 12,1% hipocelular. A dismegacariopoese foi a alteração displástica mais frequentemente observada, presente em 72,7% dos casos. A localização anormal de precursores imaturos e o aumento da rede de reticulina foram detectados em 39,4% a 34,4% dos pacientes, respectivamente. A frequência de nódulos linfóides (27,3%) foi superior à de outros autores. Não foi observada relação entre a presença de nódulos linfóides e a faixa etária mas, foi demonstrada uma associação significativa com o espessamento das fibras de reticulina. A expressão nuclear aumentada da proteína p53 foi evidenciada em 15,2% dos casos a em nenhum dos controles. Todos os cinco pacientes com positividade para p53 evoluíram para uma forma mais agressiva da doença e/ ou leucemia aguda, o que possibilitou uma associação estatisticamente significativa entre expressão aumentada da proteína a progressão da doença. Os resultados não permitem uma conclusão sobre a participação da mutação do gene p53 na gênese da mielodisplasia. No entanto, uma vez presente, a mutação possivelmente confere vantagem seletiva de proliferação ao clone mutante, sendo portanto útil para predizer a evolução da doen-ça. Síndromes mielodisplásticas são heterogêneas não apenas quanto ao fenótipo mas também com relação às bases moleculares envolvidas na sua gênese a progres-são. Estudos com um maior número de casos e mais detalhados são necessários para uma melhor compreensão desses mecanismos moleculares, o que pode possibilitar um tratamento mais específico a eficaz dos portadores de síndrome mielodisplástica.